quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Guimarães

Quando vi autocarro aproximar-se, virei a cara. Não fazia ideia daquilo que iria suceder, mas achei que olhar não fosse uma coisa muito inteligente dado que tencionava manter o meu instinto de protecção pessoal.
Parece que tomei a melhor decisão. Olhei apenas quando tive a certeza de que aquilo que eu mais temia se tinha, realmente, concretizado.
Depois, até ao momento que me levantei e corri para o local de todo aquele filme, decorreram apenas segundos que eu nem senti passarem. Num momento estava na paragem, e no outro estava perto daquele cão tão idefeso que ninguém parecia reparar. Os latidos que se faziam ouvir eram ensurdecedores, e, quando me quis aproximar para poder tirá-lo do perigo de carros em movimento, ele olhou para mim com algum receio que, rapidamente, se transformou em tristeza. Peguei nele, e aconcheguei-o o melhor que consegui no meu colo. A pata estava partida, era bastante nítido. E sem que eu conseguisse conter, as lágrimas começaram a cair. Porque eu sabia que aquele simples toque era o máximo que eu ia poder fazer por aquele ser vivo tão bonito e tão condenado pela vida.
Segurei-o enquanto pude. Mas a boleia chegou. E eu tinha que ir. Não era uma opção ficar. Pousei-o, então, com o maior cuidado que pude, e não olhei para trás. Não iria conseguir sair dali se o fizesse. Entrei no carro. E parti.

Gostava de não o ter feito. Gostava de não o ter deixado ali sozinho. Gostava de ter feito qualquer coisa diferente daquilo que fiz. Gostava que tudo fosse com as urtigas.

Hoje estou infeliz.