sábado, 30 de maio de 2009

15 de Agosto de 1900

Caríssimo leitor, se esta carta se encontra nas suas mãos neste momento, significa então que já não me encontro entre os vivos. Este simple pedaço de papel, juntamente com outros objectos que me pertencem, ou costumavam pertencer, foi deixado pela minha pessoa dentro de um baú, em que a combinação é a idade da minha morte, supondo, no entanto, que o excelentíssimo senhor leitor desta minha humilde redacção sabe já este facto, visto ser portador da mesma. Neste momento, sinto-me cada vez mais fraco e pressinto a aproximação do fim. Aqui, em Paris, uma súbita preocupação surgiu: será que serei lembrado após a minha morte? Assim, deixo aqui algumas pistas daquilo que foi a minha vida para que vós possais dizer ao mundo quem foi Eça de Queirós e aquilo que a sua curta existência trouxe de útil para o mundo.
José Maria Eça de Queirós, assim fui baptizado após o meu controverso nascimento a 25 de Novembro de 1845, em Póvoa do Varzim. De um lado, o meu papá, José Maria Teixeira de Queirós, magistrado judicial. Do outro, a mamã, Carolina Augusta Pereira d’Eça. Devido às condições ilegais da relação de meus pais, fui, precocemente, afastado destes, e levado com tenra idade para junto de meus avós paternos, onde estes habitavam perto de Aveiro.
Após a minha avó materna sucumbir, estava eu com quatro anos então, deu-se, por fim, o casamento do pai e da mãe. Todavia, este facto não alterou o facto de ser considerado filho ilegítimo pela sociedade, permanecendo, assim, afastado daqueles que me deram vida.
Tinha dez anos e uma vida inteira pela frente, quando fui internado num Colégio no Porto, o Colégio da Lapa, onde permaneci até ao momento em que ingressei na Faculdade de Direito de Coimbra, em 1881. Aí, conheci os caros Teófilo Braga e Antero de Quental. Em 1866, após concluir os estudos académicos, parti para Lisboa onde, apesar de exercer funções relacionadas com o curso que tinha acabado de concluir, não sentia um grande futuro em relação à prática desta profissão. Assim, em 1867, parti para Évora, onde fundei um modesto jornal “O Distrito de Évora”. Alguns meses mais tarde, mudei-me novamente para Lisboa, onde passei a colaborar com “A Gazeta de Portugal”.
Em 1869, tive a estupenda oportunidade de viajar pelo Egipto e pela Palestina, dois inspiradores países, onde cheguei ainda a assistir à inauguração do Canal do Suez. Nessa viagem, fez-se acompanhar comigo o ilustre conde de Resende, que me apresentou a sua belíssima irmã, Emília de Castro Pamplona, com quem, para minha grande satisfação, viria a casar, já no ano de 1886. O ambiente, as pessoas, o modo de vida, as recordações dessa jornada foram tantas e tão enriquecedoras que me foi possível, através da memória, redigir o livro O Egipto, onde podemos encontrar essas mesma impressões vividas durante todo o percurso e, ainda, criaram o ambiente propício para a realização do romance A Relíquia.
No mesmo ano, juntamente com o meu já conhecido e companheiro Antero de Quental e Batalha Reis, desenvolvemos a forma de Carlos Fradique Mendes, facto que, algum tempo mais tarde, viria a encarar como um alter-ego.
Em 1870, juntamente com um antigo docente de Francês do Colégio que frequentei enquanto rapaz, Ramalho Ortigão, escrevi alguns folhetins a que, juntos, apelidámos de O Mistério da Estrada de Sintra. A saudável sociedade prolongou-se por mais algum tempo, culminado com a publicação da crítica social e política As Farpas.
Já em Lisboa, reencontrei, mais uma vez, Antero de Quental e, em conjunto com outros estudiosos, formamos o Cenáculo, de onde surgiram as Conferências de Casino. Naquela altura, sentia-se a grande revolta de vários indivíduos, onde o Ultra-Romantismo e a Estagnação do País eram contestados. Pelas ruas, era cada vez mais notável a presença de insatisfeitos com a situação que o país atravessava. Cheguei, ainda, a ser porta-voz de uma das conferências do casino, mais concretamente a quarta, onde foi discutido o realismo como nova expressão de arte. No entanto, a crescente insatisfação do poder monárquico acerca desta revolta fez com que o Governo, movido pelas acusações de ofensa às leis da monarquia e ataque a questões como o Estado e a religião, proibisse as Conferências e encerrasse o casino.
Apesar desta proibição, esta questão terminou com a vitória dos ideais preconizados pela nossa geração, provocando, assim, uma completa renovação cultural, com a acentuação do papel de intervenção social que a literatura deve ter, pondo de parte a retrogradação do ultra-romantismo e dando espaço ao impulsionamento do realismo.
Em 1870, mais um desafio, o cargo de administrador do Concelho de Leiria que, com o qual, me permitiu recolher informações que para conceber o ambiente que um dos meus livros iria ter, O Crime do Padre Amaro.
Entrementes, em 1872, fui nomeado Cônsul em Havana que, na altura, era uma colónia espanhola. Fiz uma duradoura viagem pelo Canadá e Estados Unidos, na qual escrevi o conto Singularidades de uma Rapariga Loura e criei a primeira versão de O Crime do Padre Amaro.
Já no ano de 1874, fui transferido para Newcastle, onde escrevi O Primo Basílio, e onde surgiram as primeiras ideias das quais viriam a surgir Os Maias, O Mandarim e A Relíquia.
Catorze anos depois, já casado, fui enviado para o Consulado de Paris, onde publiquei ainda, em jornais, A Correspondência de Fradique Mendes e A Ilustre Casa de Ramires.
Entre 1889 e 1892, tive ainda a oportunidade de criar e dirigir a “Revista de Portugal”.
Hoje, permaneço neste muito último destino, a cidade do amor, Paris. Sinto que, muito em breve, vos deixarei. Sei, bem dentro de mim, que amanhã será a última vez que verei a luz do sol, que poderei pegar numa caneta e escrever aquilo que me vai na alma. Porque a Literatura é tão bela! Assim, caro leitor, suponho que se encontra no dia 16 de Agosto de, vamos lá ver, 2008, no dia do 108º aniversário da minha morte, o código do cofre onde irei colocar esta pequena biografia. Imagino a vossa cara quando recebeu uma carta em sua casa com a localização precisa do baú. Deixo, portanto, tudo preparado para que este meu pequeno tesouro vá parar às mãos certas, no dia certo. E que melhores mãos senão aquelas onde corre o mesmo sangue que o meu?
Resta-me agora a vista da cidade tão linda, que me há-de encher de alegria nestes últimos, mas preciosos, momentos e uma folha de papel, onde escrevo estas últimas palavras, as derradeiras.


15 de Agosto de 1900
Eça de Queirós.






Rita.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Vem Outono, vem....

Se não soubesse em que dia do ano nos encontramos, poderia dizer que 21 de Junho já está bastante distante. A um mês do ínicio do Verão, o calor já me está a incomodar. Saudades da chuva e de ouvir o vento gritar enquanto estou deitada na minha cama, a sonhar com o dia em que vou ter uma bibliotea só minha. Calor é sinónimo de transpiração, que por sua vez significa mau estar. Venham os dias cinzentos e propícios a histórias de terror!

Pouco falta para o fim das aulas. Em qualquer outro ano, provavelmente, por estar altura, já estaria a contar os segundos para o tão esperado descanso do guerreiro. Mas este ano, não.
Parece que hoje estou muito dada a significados, porque fim de aulas significa exames nacionais de Biologia e Geologia e de Fisico-Química e estes significam o fim da minha paz de espírito. Gostava de não me deixar afectar por isto, mas é um pouco complicado.
Enfim, como diz o Daniel, vou deixar de bater no ceguinho. Seja como for, não são dois míseros exames que me vão tirar a boa disposição. (Isto sou eu a tentar convencer-me a mim, própria, pois está claro.)

E mais uma coisa. Obrigado, professora.

Dia mais chato.


O dia estava quente. Muito quente, aliás. As roupas colavam-se ao corpo, como se fizessem parte dele, de tal modo que se podia notar a anatomia de cada um, tal era o suor que os corpos emanavam. Os mais idosos procuravam abrigo em todas as sombras que pudessem encontrar e os mais pequenos, esses, deliciavam-se com os sistemas de rega que tratavam da hidratação da relva do parque da vila, correndo e rebolando na erva húmida para combater o calor. Ouvia-se, aqui e ali, vizinhos e conhecidos a comentarem a grande seca que o país atravessava naquele ano, o calor que se apresentava dia após dia, as temperaturas que pareciam nunca mais baixar. Viam-se casais de namorados, cães correndo à volta dos seus donos, impacientes por se refrescarem. Todos pareciam conformados com aquele dia de Verão que, para mim, era apenas mais um.

Travis - Re-Offender
Rita.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

The Warning


Everything was in silence when, all of a sudden, dogs started to bark desperately, frightening all the community of that little tribal village. Everyone was whispering in the streets because they felt that something really chilling was about to happen and they were not wrong.
Among all the people, a woman screams and the silence falls. People look to each other with a question in their horrifying eyes. The fear invades young and old and the will to help that scared voice starts to grow in the community.
“My child!!! My sweet boy! I can’t find him. Please, help me!”
The silence was immediately replaced by worried voices, and histerical shrieks.
“ I want a moment to think. Please, be quit...”
The old man wasn’t shouting to the people but they all seemed to hear him. He was standing on a rock with his back straight and a tribal staff in a wood in his wrinkled hands.
“ We must think. We must get a plan. First of all, I need to ask you something, Akawara. Did you noticed anything weird today?”
Akawara said that besides the mysterious disappearance of her son, nothing unusual took place in the village. Everybody started to search for the kid but they didn’t find any clue about the place where he could be.
As no one could find him, someone came with a theory that made the legs tremble.
The ancestors of that community believed that Thor, one of their gods, demanded the sacrifice of children, otherwise the annual harvest would be ruined.
Since the beginning of the investigation, eleven more children had disappeared and White Eagle, the old man that leads the tribe, decided that someone should look for spiritual answers.
To do so, he went to the cave where statues of gods were. Thor was also there... White Eagle was praying when, suddenly, someone interrupted his line of thoughts.
Akawara was breathless, running towards his leader.
“White Eagle, I found them! They’re in a clearing in the woods near the mystical waterfall.”
A bright smile appeared in the leader’s face as if nothing was better than the news he had just received.
“Thanks’ to Ashalmin, god of life! Let´s reunite all the members of this village and then you can show us the way.”
And so it was... a short time later, they were in the clearing in the woods where they found all the missing children. They were on the floor, forming a circle and looking at something that the rest of the inhabitants couldn´t see.
Akawara finally saw her son and she ran towards him like all the other mothers.
“ Iakary, why did you all come here alone? Why? We were so worried!”
Iakary looked at his mother with a look of incomprehension on his childish face...
“We didn´t come here alone... Can’t you see all these people here with us?”
White Eagle was listening to the conversation and, suddenly, all of the mysteries started to make some sense to him. He had always listened to some stories about the spirits of the forest that only child could see and animal could feel. So, he was able to solve all the dark problems that had fallen over his people and he discovered why dogs barked everytime a child disappeared. They knew what was about to happen. They felt the presence of the other world and they tried to warn them...

End of Story ;)
Daniel Dantas Gomes
Rita Rodrigues Borges
Sara Esteves Cerqueira

Somos tão talentosos que até irrita :b

Provavelmente, a história tem um final sangrento, visto os membros do grupo serem um pouco, vá, macabros. Mas nada de especial.

domingo, 3 de maio de 2009

Dia da Mãe

O Dia da Mãe teve a sua origem no princípio do século XX, quando uma jovem americana, Anna Jarvis, perdeu a sua mãe e entrou em completa depressão. Preocupadas com aquele sofrimento, algumas amigas tiveram a ideia de perpetuar a memória da mãe de Annie com uma festa. Annie quis que a homenagem fosse estendida a todas as mães, vivas ou mortas. Em pouco tempo, a comemoração e consequentemente o Dia da Mãe alastrou-SE por todo Estados Unidos e, em 1914, a sua data foi oficializada pelo presidente Woodrow Wilson: dia 9 de Maio.
Em Portugal, o Dia da Mãe é celebrado no primeiro domingo de Maio.

Feliz dia, Mãe.
Porque tiveste a coragem de me carregar durante nove meses.
Porque ainda tens a coragem de me carregar agora.

Jantar em Casa dos Gouvarinho


Na obra, existem vários episódios que nos remetem para a caracterização da sociedade portuguesa, sendo que estes assumem a forma de crítica e de sátira social. Através destes episódios, Eça de Queirós transporta-nos para uma sociedade onde os defeitos sociais impedem o progresso e a renovação das mentalidades e onde ninguém parece ter inteligência ou vontade suficiente para alterar esta situação. De facto, é-nos apresentada uma sociedade onde aqueles que têm o poder de ultrapassar a estagnação do país vivem na ignorância e no refúgio do luxo, fazendo pouco ou nada que possa ser considerado útil para a sociedade que os rodeia. Os defeitos supracitados são apresentados como espelho dos elementos estruturadores da acção portuguesa e da forma de compreender e de estar no mundo daqueles que integram o país.
O episódio da crónica de costumes do qual irei falar é o jantar na casa dos Gouvarinho.
O jantar em casa dos Gouvarinho é marcado pela crítica social que está presente devido ao diálogo entre personagens e, principalmente, pela atitude que estes tomam face às situações. Este jantar permite-nos observar a degradação dos valores sociais, o atraso intelectual do país, a mediocridade mental de algumas figuras da alta burguesia e da aristocracia. São-nos apresentados vários temas de conversa que são introduzidos no decorrer do diálogo que se estabelece na casa dos Gouvarinho e que Eça utilizou para radiografar a ignorância das classes dirigentes do país.
Neste episódio, é facilmente visível o atraso e a estagnação do país.
Numa conversa entre D. Maria e Carlos, Carlos afirma que tudo permanece igual.

“Creio que não há nada de novo em Lisboa, minha senhora, desde a morte do senhor D. João VI.”
(Capítulo XII, página 389,edição antiga, e página 395, na edição recente)
Esta afirmação de Carlos é um perfeito indicador da inércia da população portuguesa, que em nada contribui para a evolução social do país. Esta falta de actividade foi, talvez, um dos pontos fulcrais que Eça de Queirós tentou abordar com “Os Maias”, uma vez que toda a obra dá relevância à apatia dos habitantes.
Durante o jantar, é possível apreciar duas concepções opostas sobre a educação da mulher. Por um lado, uma mulher deve ter capacidade para falar sobre livros ou artigos de revista mais simples sem que, no entanto, tenha capacidade intelectual que lhe permita discutir abertamente assuntos de cariz literário, político ou social com um homem. Por outro lado, as melhores qualidades, e aquelas às quais se deveria dar mais relevância, são as de dona de casa, ou seja, cozinhar e ser uma boa mulher. Citando Ega:
“A mulher só devia ter duas prendas: cozinhar bem e amar bem.”
(Capítulo XII, página 398, edição antiga, e página 404, edição recente)

Naquela época, a educação das mulheres não era considerada uma prioridade e as mulheres mais dotadas intelectualmente eram, de certa forma, temidas pelos homens como, mais uma vez, Ega afirma.

“Uma mulher com prendas, sobretudo com prendas literárias, sabendo dizer coisas sobre o sr. Thiers, ou sobre o sr. Zola, é um monstro, um fenómeno que cumpria recolher a uma companhia de cavalinhos, como se soubesse trabalhar nas argolas.”
(Capítulo XII, página 398, edição antiga, e página 404, edição recente)

O Conde de Gouvarinho afirma que as mulheres deveriam poder discutir um livro de formas a tornar a conversa interessante, mas Ega opõem-se a esta ideia.

“O dever de uma era primeiro ser bela, e depois ser estúpida…”
(Capítulo XII, página 397, edição antiga, e página 403, edição recente)

Com esta afirmação arrojada de Ega, que diminui as capacidades das mulheres e que as rebaixa intelectualmente, o Gouvarinho altera a sua opinião.
“O conde afirmou logo com exuberância que não gostava também de literatas: sim, decerto o lugar da mulher era junto do berço, não na biblioteca.”
(Capítulo XII, página 397, edição antiga, e página 403, edição recente)

Estes comentários sobre as mulheres são representativos da sociedade em que se vivia, uma vez que a educação das mulheres não era considerada prioritária e apenas os homens podia interferir na vida cívica. O papel do sexo feminino na sociedade de então era de mero espectador, não tinham opinião definida sobre nada do que as rodeava e, mesmo tendo, o que elas diziam era desvalorizado pelos homens, pois eram eles quem detinha o poder e quem tomava todas as decisões.
Eça de Queirós retrata esta realidade através do discurso entre indivíduos da alta sociedade que, em vez de tentarem alterar a posição apática deste grupo de pessoas, manifestavam o seu desagrado face a essa mudança e apoiavam resolutamente esta inactividade.
A falta de cultura dos indivíduos que são detentores de cargos que os inserem na esfera social do poder é um dos pontos mais criticados neste episódio sendo também aquele que mais se destaca sob a forma de Sousa Neto, da Instrução Pública.
Sousa Neto, que deveria ser um homem de grande inteligência e cultura, aparece-nos como um ignorante e alguém com os horizontes limitados. Quando Ega lhe pergunta se sabe o que diz Proudhon, Sousa Neto demonstra falta de conhecimento sobre este socialista utópico uma vez que, em modo de desculpa, argumenta que não se recorda “textualmente” da obra, referindo depois que “Proudhon era um autor de muita nomeada”. No entanto, perante a insistência de Ega, e quando este menciona “as grandes páginas de Proudhon sobre o amor”, sintetiza a sua ignorância pensando que está a demonstrar grande conhecimento.

“Não sabia – disse ele com um sorriso infinitamente superior – que esse filósofo tivesse escrito sobre assuntos escabrosos!”
(Capítulo XII, página 398, edição antiga, e página 404, edição recente)

Com isto, Sousa Neto demonstra não conhecer aquilo que o rodeia e Ega, aproveitando esta oportunidade para o provocar, pergunta-lhe, consternado, como poderia o amor ser considerado um assunto escabroso. Sousa Neto demonstrou um pouco de embaraço mas, para não dar parte de fraco nem de pessoa inculta, reuniu toda a sua dignidade e defendeu-se da pergunta acusadora de Ega.

“ É meu costume, sr. Ega, não entrar nunca em discussões e acatar todas as opiniões alheias, mesmo quando elas sejam absurdas…”
(Capítulo XII, página 399, edição antiga, e página 405, edição recente)

Esta afirmação de Sousa Neto é uma forma de Eça afirmar que os detentores de altos cargos na sociedade portuguesa são pessoas sem ideias próprias e cuja falta de cultura os impede de participar activamente numa discussão sobre aquilo que se passa à sua volta. Demonstra uma incapacidade latente de proferir uma opinião e de tomar decisões que promovam o avanço do país. Está, portanto, aqui presente, uma das principais causas da estagnação que se fazia sentir na altura, a incapacidade de agir dos governadores.
Outra personagem muito representativa da ignorância das classes dirigentes é o Conde de Gouvarinho. Este homem tenta criar um diálogo inteligente sobre a escravatura mas, não percebendo a ironia sarcástica por detrás das palavras proferidas por João da Ega, muda inesperadamente de assunto de forma a não ter que formular nova opinião.

“O nosso Ega quer fazer simplesmente um paradoxo e tem razão, tem realmente razão, porque os faz brilhantes…”
(Capítulo XII, página 393, edição antiga, e página 399, edição recente)

O deslumbramento pelo estrangeiro revela os horizontes limitados dos elementos dirigentes do país. O estrangeiro era-lhes apelativo, pois tudo, ou quase tudo, que conheciam se cingia à realidade Lisboeta. Por este facto, e para demonstrarem um conhecimento que, na realidade, não possuem, tentam falar de outros países como se já lá tivessem estado. É numa destas tentativas de demonstrar conhecimentos que o Conde de Gouvarinho explica à senhora de escarlate como era o país que Carlos da Maia havia visitado.

“País de grande prosperidade, a Holanda!.. Em nada inferior ao nosso… Já conheci mesmo um holandês que era excessivamente instruído…”
(Capítulo XII, página 390, edição antiga, e página 396, edição recente)

Todavia, quem sente uma maior curiosidade e fascínio pelo estrangeiro é Sousa Neto que chega até a questionar Carlos sobre Inglaterra e sobre a sua literatura.

“E diga-me outra coisa – prosseguiu o sr. Sousa Neto, com interesse, cheio de curiosidade inteligente. – Encontra-se por lá, em Inglaterra, desta literatura amena, como entre nós, folhetinistas, poetas de pulso?...”
(Capitulo XII, página 399, edição antiga, e página 405, edição recente)

Sousa Neto é, mais uma vez, a personagem alvo da crítica de Eça pois o facto de ele demonstrar tanta admiração por outros países faz com que seja visível o seu aprisionamento cultural, confinado às terras portuguesas.

Neste episódio é também bastante visível o facto de os homens que estão em posição de poder em Portugal valorizarem mais o luxo e o “chique” que, propriamente as acções em prol do espaço em que estão inseridos.
“Mas ele agora não falava tanto do talento do Barros como parlamentar, como homem de estado. Falava do seu espírito de sociedade, do seu esprit…”
(Capítulo XII, página 393, edição antiga, e página 399, edição recente)
É, assim, clara a crítica que Eça de Queirós pretende fazer neste episódio: a sociedade portuguesa está em estagnação e as pessoas de poder nos altos cargos da sociedade preferem o luxo e a diversão às actividades políticas e/ou sociais que a sua posição exige.