sábado, 6 de junho de 2009

Hospitais.

A primeira coisa que faço ao entrar no recinto é aspirar o forte cheiro a água oxigenada e álcool. Vários grupos de pessoas aguardam na sala de espera por familiares ou, então, pela consulta que parece nunca mais chegar. O barulho está sempre presente, vindo do choro de uma criança saturada daquele lugar, ou das conversas dos pacientes que parecem nunca esgotar o seu vasto conteúdo de informações acerca dos outros. Sigo para o meu destino, com a ideia de que será mais uma tarde passada dentro de uma máquina que me provoca claustrofobia. É engraçado como começo a estar habituada a estas andanças. Já fazem parte da minha vida.
Entro, por fim, na sala onde se localizam os exames. Na parede, é possível ver um grande painel azul, onde lemos os nomes dos responsáveis por aquela secção do hospital. Reconheço alguns nomes como sendo de indivíduos estrangeiros, o que, para ser sincera, não é nenhuma novidade. É como as moedas: em cinco, duas são portuguesas.
Dirijo-me ao balcão, onde sou atendida por uma mulher com cerca de 30 anos, suponho. Digo-lho que a minha presença se deve à elaboração de uma nova ressonância, pois o doutor ortopedista não gostou do que viu na primeira. Assim, muito educadamente, pede-me que aguarde. Trata-me por Dona Rita, e devo confessar que não gosto muito do cumprimento. Faz-me sentir velha.
Sento-me numa das muitas cadeiras livres na sala. Pego no meu QQSB e começo a ler para me distrair. Sei por conhecimento de causa que a espera vai ser longa. Uns minutos depois, entra na sala uma mulher com os seus dois filhos, um menino de seis, sete anos, e um bebé com o aspecto de ter nascido apenas há poucos dias. Senta-se bastante distanciada de mim, mas apesar disso, consigo reparar na sua palidez e no seu olhar cansado. Uma recém-nascida pode ser esgotante. O bebé dorme, mas, por outro lado, o rapaz parace ter a energia de dois hiperactivos. A mão repreende-o, mas nem isso o faz acalmar. Então, para grande alívio da mulher, como reparo, entra um homem. Suponho ser o marido, pois senta-se no lugar vazio junto dela, e coloca o garoto no seu colo. Sorrio para mim, a pensar na família e no seu membro mais novo. Parecem felizes.
Pouso o livro, e pela primeira vez, olho para o meu redor. Além de mim e da pequena família, consigo ver uma senhora de avançada idade a dormitar. As esperas podem ser aborrecidas. Do outro lado, vejo dois adolescentes, atentos ao programa que está a passar na TV. Não gosto de televisão e, por isso, volto o meu olhar para outra direcção. Dois idosos aguardam pela sua vez, enquanto folheiam uma revistas que se encontram num pequena mesa castanha clara.
A porta cor-de-rosa abre-se. Um enfermeiro, com uma bata verde, entra. Ansiosa, arrumo as minhas coisas e espero que o meu nome seja dito. Mais uma vez, apanho uma decepção. Após o nome ser dito em voz alta, duas vezes, a senhora que anteriormente dormitava levanta-se e, em passos lentos, dirige-se para o seu exame. Que sorte, penso para mim.
Novamente, pego no meu livro, e também, no MP4. Fico ansiosa quando fico muito tempo sem ouvir música. Ao som dos Coldplay, leio mais um pouco, enquanto espero. Então, vejo a mãe a amamentar o recém-nascido. É um momento bonito, e ser me aperceber, fico a olhar para os dois. Sou apanhada pelo miúdo, que fica muito sério a olhar para mim. Desvio o olhar, um pouco envergonhada, confesso. Mais uma vez, a porta abre-se. Desta vez, não ponho as coisas no saco. Nem sequer olho para o enfermeiro.
Rita Rodrigues Borges. Por fim, o meu nome é dito. Com um suspiro, levanto-me e passo pela porta cor-de-rosa. Por fim.


Estou assustada. O meu joelho não me dá descanso, e os médicos não fazem boa cara. Não gosto disto.

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