domingo, 28 de junho de 2009

Senhor G

Esta última noite foi passada de uma forma diferente da habitual. A professora Ilda, uma das minhas vizinhas, precisava de alguém que tomasse conta do seu pai por uma noite. Eu lá me ofereci, visto que não tinha nada para fazer nessa noite e porque, na realidade, não me custava nada.
Descobri que o Senhor G, como eu decidi chamar-lhe, é muito mais divertido daquilo que aparenta. Pude constatar, na minha cama, das várias vezes que o ouvi levantar-se a meio da noite, que tem vários hábitos, pequena coisas que faz sempre que se levanta e sempre que volta a deitar-se.
Sei que o senhor G está acordado quando tosse três vezes. Percebi isso na quinta vez que ele me tirou do sono. Senta-se na cama, e puxa, com muito cuidado, os lençois para trás, com uma perfeição quase exagerada. De seguida, coloca as pernas no chão, mas não se levanta sem antes verificar se os seus três lenços e porta-moedas continuam por baixo da almofada azul clara. Feita a verficação, calça os chinelos e levanta-se, muito devagar, para tentar, suponho eu, não me acordar. Não teve grande sucesso com essas tentativas.
Depois de fazer aquilo que o fez sair da cama, regressa, sempre com muito cuidado para não fazer o mínimo brulho. Põe, novamente, os lençois de forma a parecer que a cama acabou de ser feita. Então, depois de concluir esta tarefa, coloca, de novo, todo o material que cobre o móvel para trás, destruindo o trabalho que acabar de fazer. Senta-se, tira os chinelos, mas não se deita sem verificar, mais uma vez, se os seus pertences continuam por baixo da almofada. Não vá alguém roubá-lo. Por fim, estende-se na sua cama, cobrindo-se e olhando uma última vez para o quarto antes de se deixar cair no sono. Reparei também que diz um Pai Nosso sempre que se deita.
E adormece.

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