Depois de hesitar meia dúzia de vezes, lá me decidi a tocar à campainha. Não ia ficar ali o resto da tarde à espera que a porta se abrisse sozinha. Se analisasse bem a situação, rapidamente concluiria que estava a ser uma total idiota. Assim, coloquei o dedo sobre o botão e pressionei. O som que se ouviu assemelhava-se a um elefante em agonia. Ri-me. Encarei isso como sendo um bom presságio. Estava desesperada por pessoas diferentes daquilo que se considerava como sendo o normal. Porque os últimos meses tinham sido os mais difíceis de suportar na minha, ainda não muito longa, existência. Queria ver caras novas, costumes diferentes, formas de viver diferentes e que implicassem campainhas a imitar animais desesperados. Precisava urgentemente desse pequeno conforto.
-Maria? Oh querida, entra! –
Por momentos, tive a ligeira sensação que aquela senhora de idade tão carinhosa sabia que eu tinha estado a aguardar à porta durante os sessenta minutos anteriores.
- Hum, obrigada. –
- Ai, tão querida! Tu és muito tímida, não és? Ai, não sais nada ao meu Pedrinho, tão extrovertido. Sempre cheio de raparigas à volta dele. Entra, entra. Não tenhas vergonha. Cá em casa, essas coisas ficam à porta. –
Tive um bloqueio. A minha zona da Broca deve ter sido afectada por todas aquelas palavras tão rapidamente ditas pela avó. De tal forma que não conseguia formar uma palavra que fizesse qualquer sentido. E, sendo sincera, fiquei feliz por isso. Coisas complicadas e totalmente complexas, era disso que eu precisava. Sim, ia adorar passar ali os meses que se aproximavam.
-Vou tentar lembrar-me disso. – E sorri. - Você deve ser a Sra. Glória? –
- Glória, Mariazita. Ou avó, se preferires. Já te considero como se fosses da família. – E deu-me um forte abraço, ao qual retribui automaticamente. Estava a adorar tudo aquilo.
- Deves estar cansada, depois de toda esta viagem. Anda, que eu levo-te ao teu quarto. Ainda só cá estou eu, mas não tarda nada vais conhecer o avô, a mãe, o pai, o tio e o meu netinho, o Pedro. –
A avó sabia que não precisava de me dizer os nomes de cada um dos elementos da família. Ao longo das últimas semanas, tinham dedicado grande parte do meu tempo a conhecer a família com quem iria viver enquanto estava na Irlanda.
- Vou esperar até estarmos todos para me mostrar os cantos à casa. Quero que te sintas totalmente como se estivesses no teu próprio lar, sim? Pronto, vou deixar-te enquanto arrumas as tuas coisitas, e vou acabar o jantar antes que ele queime. Na casa dos Melo, a comida serve-se sempre no ponto. E, modéstia à parte, não vais provar melhores cozinhados do que os meus ao longo de toda a tua vida. Podes ter a certeza. –
E a cantarolar algo que eu desconhecia, a avó deixou-me sozinha.
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